quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Homenagem a Jésus Gonçalves 12-07-1902 / 16-02-1947

Divaldo Pereira Franco e
a linda vidência de Jésus Gonçalves (espírito)
Jésus Gonçalves

Jésus Gonçalves
1902- 1947

Do Livro: O Peregrino do Senhor
Altiva Glória F. Noronha
Capitulo 15

Narraremos, neste capitulo, algumas experiências mediúnicas de Divaldo Pereira Franco. Todas são autênticas; aconteceram de fato e de verdade.
          “Os desígnios de Deus são impenetráveis. As suas soberanas leis estabelecem as diretrizes da vida, objetivando o progresso e o aperfeiçoamento do ser, nas várias etapas do seu processo reencarnacionista.
O homem em particular é o resultado das suas experiências anteriores, programando, por  conseqüência, a sua aprendizagem futura. Em cada etapa, quando bem intencionado e adestrado para os valores positivos, libera-se dos problemas negativos, afirmando as tendências superiores, com objetivos de elevação.
Por isso, em momento algum, cabe ao homem o desânimo, a descrença, a negação da vida.  De instante a instante, mudam-se as paisagens nas quais ele se encontra colocado. Modificam-se os valores e abrem-se oportunidades, onde antes estavam problemas e impedimentos.
É Divaldo quem assim nos fala, nesta beleza de raciocínio, prosseguindo em seguida a complementar a idéia:
“Fazendo um retrospecto da minha vida, em cada passo encontro a mão de Deus conduzindo-me com segurança, embora a minha rebeldia inconsciente para os objetivos relevantes da existência planetária. A cada momento, uma interferência judiciosa, um apontamento oportuno, uma mão amiga, constituíram-me e constituem-me o apoio para a tarefa que reconheço pequena, mas, para mim, muito valiosa, objetivando o meu próprio bem.
No ano de 1949, quando os tormentos obsessivos me avassalavam, porque ainda não me adestrara no conhecimento espírita, e também pela juventude do corpo, todas as tardes eu tinha por hábito ir sentar-me no quintal da casa onde morava, no Bairro do Machado. O quintal dava o fundo para as Invasões, onde centenas de casebres sobre o lamaçal apresentavam grave problema sócio-econômico dos que residem em tal região, em Salvador.
A minha vida íntima, sacudida por inquietações e tormentos, por ansiedades e incertezas, era uma constante busca da paz, uma contínua procura de Deus. Numa tarde muito especial para mim, buscando a calma interior, eu me pus a orar. O quadro que se me erguia à frente era de muita beleza. O Sol declinava por sobre o pantanal e havia um silêncio exterior muito grande. Procurei, então, mergulhar nas blandícias da prece, pedindo a Deus a mão socorrista, assim como aos Bons Espíritos o seu apoio e assistência, para que não viesse a resvalar pelas rampas do desequilíbrio.
Foi nesse momento que, de súbito, eu vi chegar um ser espiritual com características para mim até então jamais vistas: apresentava profundas marcas na aparência física. Um dos pés, que parecia ter os dedos amputados, estava envolto em gaze, com uma deformidade visível. O corpo alquebrado, a cabeça marcada por cicatrizes, o nariz deformado, sem o septo nasal, e uma expressão de profunda melancolia, olhando-me com enternecimento e carinho comovedores. Na minha ignorância, na minha falta de discernimento doutrinário, pensei de imediato: apesar da prece, eis aí a presença de um Espírito obsessor. Bem se vê que eu confundia, então, a aparência com o conteúdo, a realidade íntima. Foi quando o ouvir dizer nitidamente:
  Não sou um bem-aventurado, mas tampouco eu sou um obsessor. Sou teu irmão. Chamo-me Jésus Gonçalves, e desencarnei, não há muito, num sanatório de leprosos, em Pirapitingui, Estado de São Paulo.
Naquela época ainda não se usava o verbete hanseniano. Era a palavra marcadora, quase cruel, da tradição bíblica. E ele prosseguiu:
  Fomos amigos. Venho, de etapa em etapa, ressarcindo a duras penas o que contraí desde os dias em que, na condição de conquistador, disseminei a morte pela guerra, destruindo lares, roubando vidas, deixando órfãos e viúvas a prantearem os seus mortos. Indiferente, à alheia dor, era devorado pela volúpia da insanidade destruidora. Mais tarde, muito mais tarde, já conhecendo Jesus, não me foi possível fugir daquela compulsão guerreira e, em posição relevante na política francesa do século XVII, novamente me engalfinhei em lutas tenebrosas, sendo um dos responsáveis pelo prosseguimento da guerra franco-austríaca, especialmente na sua terceira fase.
 Em chegando  do lado de cá, dei-me conta da alucinação que me devorava e roguei ao Senhor, por misericórdia, me concedesse a lepra purificadora, para o despertar dos deveres de profundidade, aqueles que me poderiam conscientizar das finalidades superiores da vida. Eis por que, desde então, venho no processo purificador, havendo concluído uma etapa muito consciente, em Pirapitingui, no Estado de São Paulo, poucos anos atrás, onde pude integrar-me no serviço da Revelação Espírita, entregando-me a Jesus”.
Enquanto falava, Jésus Gonçalves se metamorfoseava. Aquela aparência lôbrega e triste se transfigurou diante dos olhos deslumbrados de Divaldo, que pôde ver-lhe a luminosidade interior. Esta lhe chegava como sendo pequeno sol, clareando o crepúsculo do entardecer. E onde antes havia deformações em seu corpo, agora estava a presença das luzes, a forme bem feita, como se tecida de substância luminescente. Jésus Gonçalves então disse, como a querer dar uma explicação à surpresa de Divaldo:
 O que a lepra carcomeu ficou sublimado nas regiões perispirituais. Mas, venho aqui, por dois motivos, falar contigo. Na reunião doutrinaria de hoje, estará presente uma amiga muito querida. Desejo que a informes do nosso encontro. O segundo motivo é que eu te queria pedir visitares a colônia de leprosos desta cidade, no subúrbio de Águas Claras.
Ante a surpresa da proposição, ainda marcado pelo tabu e pela ignorância em torno do mal de Hansen, Divaldo respondeu, comovido:
 Por favor, não me faça um pedido de tal natureza. Esta doença, cujo nome nem sequer eu pronuncio, tal o pavor que me causa, assusta-me demasiadamente e eu nunca teria coragem de visitar o lugar onde estivessem pessoas com ela ...
Jésus Gonçalves sorriu da ingenuidade de Divaldo e redargüiu:
  Divaldo, eu te estou pedindo que vás lá, a fim de que não vás para lá! Preferes ir lá ou para lá?
Divaldo, naturalmente, disse apressadamente que era claro, ele preferia ir lá! Jésus Gonçalves então falou que ele iria tomar as providencias compatíveis, para irem os dois juntos, falar um pouco aos irmãos hansenianos. E diluiu-se diante dos olhos assombrados de Divaldo, deixando-lhe, porém, uma indefinível sensação de paz e bem-estar...
À noite, em seu grupo de trabalhos, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, fundado havia já dois anos e funcionando ainda em sala ampla, numa casa na mesma rua onde tem hoje a sua sede definitiva, Divaldo contou esta experiência aos irmãos e perguntou se, por acaso, alguém ali já ouvira falar ou conhecera Jésus Gonçalves. Levantou-se então, uma senhora portadora de grande beleza do corpo e da alma e declarou:
 Jésus Gonçalves foi meu amigo. Quase desencarnou em meus braços. Convivi com ele, quanto me permitiram as possibilidades. Sou mineira do interior, e resido na capital de São Paulo, há muitos anos, onde mantenho um serviço de visita a várias casas de leprosos. Meu nome é Zaira Pitt. Em companhia de Julinha Koffmann e de outros, procuramos dar assistência aos nossos irmãos leprosos. Neste momento, com um grande número de amigos, estamos ajudando a construção do pavilhão para tuberculosos hansenianos, lá mesmo no hospital de Pirapitingui.
A senhora confirmou, disse Divaldo, para a surpresa de todos nós, a existência desse Espírito, dizendo a ele estar vinculada, fazia muito tempo. Quando o jovem baiano disse que Jésus Gonçalves pedira que ele visitasse a colônia de leprosos de Águas Claras, D. Zaíra Pitti estimulou-o muito para essa tarefa, dizendo que não havia o menor perigo de contágio, como comumente se pensava e propalava por aí...
Jésus Gonçalves, antes de retirar-se, naquela tarde em que se manifestara a Divaldo, aconselhara-o a ler um livro que o ajudaria a perder o medo da lepra, intitulado “Eles Caminham Sós”, dizendo, mais, que ele o faria chegar às suas mãos, através de alguém. Com o pedido do Espírito comunicante e o encorajamento dado por Zaíra Pitti, Divaldo, então, propôs aos freqüentadores do Centro Espírita, a visita àquele lar expurgador. Amigos mais bem relacionados na sociedade entraram em contato com o diretor do hospital, o qual, de inicio vetou aprioristicamente o plano da visita. Mas, a insistência de Divaldo, ante a afirmativa de que o objetivo era apenas fazer uma visita fraterna, levando alguns brindes e um pouco de alegria, respeitando todas as instruções da casa, ele aquiesceu, impondo uma série de restrições. Até aquela época, 1949, o mal de Hansen ainda gozava de muitos tabus e preconceitos que impediam as visitas. Mas Divaldo logrou a liberação da ordem de impedimento e o grupo fez a primeira visita. Foi com ela que iniciou a série de excursões que até hoje faz à colônia de hansenianos, em Águas Claras. Isto, há 36 anos consecutivos!
D. Zaíra Pitti havia viajado a Salvador com o objetivo de conhecer a família do Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro, o insigne filólogo, o qual então se comunicava em São Paulo, através de um jovem médium por nome Moacyr, que realizava cirurgias mediúnicas,  especialmente de câncer, de que ela, Zaíra Pitti, era portadora, com resultados excelentes. Tinha vindo para agradecer à familia e trazer uma mensagem do Dr. Carneiro Ribeiro aos que haviam ficado na carne. Visitando uma Instituição Espírita de Salvador, alguém havia indicado o nome de Divaldo; por isso ela havia ido ao Centro Espírita “Caminho da Redenção”, naquela noite, naturalmente inspirada por Jésus Gonçalves. Ela retornou a São Paulo, mas tornou-se grande amiga e benfeitora de Divaldo.
Em 1950, o Sr. José Gonçalves Pereira, hoje Diretor da Casa Transitória de São Paulo, departamento social da Federação Espírita daquele Estado, foi fazer uma visita a Divaldo, incumbido de um convite de Zaíra Pitti, para que, na primeira oportunidade, ele fosse levar a Grande Mensagem à Capital Paulista: pessoas interessadas na divulgação da Doutrina Espírita financiaram a passagem e ele ficaria hospedado em casa daquela mesma benfeitora dos hansenianos e dos sofredores. A viagem aconteceu em dezembro do mesmo ano de 1950. No dia 30, o jovem baiano ali chegou, sendo recebido por alguns corações amigos, dentre os quais, D. Zaíra Pitti. No dia 1º. de janeiro de 1951, o grupo foi visitar o leprosário de Pirapitingui. No grupo estavam aquela senhora, Divaldo e o Sr. Joaquim Alves, o famoso Jô, admirável trabalhador da Seara Espírita, desenhista ímpar e pintor exímio, o Dr. Lauro Michielin, um dos criadores e fundadores do Sanatório Espírita “Antonio Luiz Sayão” (Araras, SP) e que, sob o pseudônimo de Jacques Garnier, escreveu várias obras, relatando experiências mediúnicas, trazendo conceitos e reflexões muito valiosos, e que eram vendidas a beneficio do referido Sanatório (naquela época, como vemos, já existia o sistema abençoado da divulgação doutrinária, beneficiando uma obra assistencial).
Chegando a Pirapitingui, o grupo teve a oportunidade de conhecer a viúva de Jésus Gonçalves. D. Ninita, cega, mas excelente médium vidente. Ela descreveu Divaldo tal como se o estivesse vendo! Falou da presença espiritual do marido ali também. Mas, uma senhora muito rica, que Zaíra Pitt levara, viúva recente, trajando mesmo luto fechado, foi quem mais chamou a atenção de Ninita, que lhes descreveu o esposo desencarnado e pediu-lhe para tirar o luto, dando-lhe uma lição de imortalidade das mais comovedoras. O grupo foi depois ao Centro Espírita “Santo Agostinho” e, ali, Divaldo proferiu uma palestra para os internados e visitantes. Após a alocução, todos voltaram à Capital.
No domingo seguinte, por solicitação de D. Zaíra Pitti, Divaldo fez uma palestra na reunião das 10 horas da manhã, na Casa-Máter do Espiritismo em São Paulo. Naquela época, Pedro de Camargo, o inesquecível escritor e orador Vinicius, que mantinha uma grande assistência, havia vários anos, ali acorrendo para ouvir-lhe a palavra fluente e evangelizadora, foi quem apresentou o jovem baiano, assim falando:
 Muitos aí estão a perguntar quem é esse jovenzinho e o que faz ele aqui, ao meu lado. Tenho, assim, a imensa satisfação de apresentar Divaldo Pereira Franco aos nossos irmãos paulistas. Este nosso amigo vindo da Bahia traz uma mensagem de vida, com a sua mediunidade voltada para o Bem e guiada pela Doutrina Espírita, a fim de nos estimular a marcha e nos encorajar para a luta.
Foi dessa forma que Divaldo proferiu a suas primeira palestra na Federação Espírita do Estado de São Paulo, vinculando-se também àquele missionário do bem e da luz, que era Vinicius, o emérito educador e o sacerdote, no sentido profundo da palavra, da mensagem evangélica e espírita.
Assim, Divaldo Pereira Franco iniciou as suas pregações na capital bandeirante. Era janeiro de 1951, o que vale dizer: há quase 36 anos!

Livro O Peregrino do Senhor – 1ª. edição – LEAL- 1987
 
Capa do livro de d. Altiva Noronha
onde está narrado o episódio acima

Dois livros imprescindíveis para quem queira conhecer
a  vida e a obra de Jésus Gonçalves.
Jésus Gonçalves, sentado,  já com as seqüelas da lepra em Pirapitingui.
Dona Ninita é a primeira de óculos escuro a partir da esquerda
Julinha * é a última da direita.
Foto nos livros: Flores de Outono e A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves

Jésus Gonçalves sentado
dona Ninita, companheira de Jésus Gonçalves, um visitante,
Zaíra Junqueira Pitt e Julinha Thekla Kobleisen
Foto do Livro: A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves
USE/Madras- Eduardo Carvalho Monteiro
Flagrante da inauguração do C.E. Santo Agostinho. Jésus Gonçalves é o quarto da direita
para a esquerda. Seu filho Jaime está logo à sua direita (16/12/1945)
Do livro: A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves. Eduardo Carvalho Monteiro. USE/Madras

Abaixo outras imagens de personalidades citadas nesta homenagem a Jésus Gonçalves
Divaldo Pereira Franco por ocasião da inauguração da Mansão do Caminho,
em Salvador,  Bahia, aos 15 de agosto de 1952.
Imagem obtida em  trabalho de Simoni Privato Goidanich, Quito,  Equador.

* Em nossas pesquisas encontramos o nome de Julinha citada neste trabalho grafado de duas formas:    Julia Thekla Kohleisen e Julinha Koffmann.
(Ismael Gobbo)



Nenhum comentário:

Postar um comentário