sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Divaldo Pereira Franco fala sobre sua iniciação no Espiritismo

Texto extraído do exórdio do livro

“Primícias do Reino” ditado pelo

Espírito Amélia Rodrigues, 3ª. Ed.

Explicação

Atendendo a sugestões dos Benfeitores Espirituais, encorajo-me a esta Explicação.

Com a desencarnação repentina de um irmão, em 24 de junho de 1944, em Feira de Santana (Estado da Bahia), nossa cidade natal, e uma série de acontecimentos dolorosos, fui levado por mãos generosas a travar conhecimento com devotada médium espírita, D. Ana Ribeiro Borges (Nanã), que por sua vez me conduziu ás primeiras sessões mediúnicas, onde a psicofonia espontânea desabrochou em mim.

Católico praticante, durante muitos meses relutei entre a antiga convicção religiosa e as elucidações claras que o Espiritismo me oferecia sobre os problemas da vida, as origens do ser, as provações, o destino através da reencarnação.

Transferindo residência, logo depois, para Salvador, iniciei-me, por volta de 1947, por orientação dos devotados Amigos Espirituais, no estudo de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, bem como nas demais Obras da Codificação. Refiro-me a estudo e não à leitura pura e simples, porquanto desde as primeiras horas esses abnegados Instrutores do Mundo Espiritual referiram-se à Obra Kardequiana como profunda, excelente, profundidade e excelência essas que eu mesmo constataria lentamente, através dos anos, dedicando-lhe estudo sistemático e carinhoso, durante toda a vida.

Em março de 1948, estando em viagem de férias, na residência de confrades amigos, na cidade de Aracajú, fui convidado a proferir alguns comentários na sessão hebdomadária da União Espírita Sergipana, convite esse feito pelo seu então Presidente.

Era a primeira vez que me apresentava em público e, dominado por compreensível constrangimento, demorei-me impossibilitado de proferir uma única palavra, embora o número de pessoas presentes não excedesse a 15. Naqueles minutos de tormento íntimo, que pareciam não ter fim, vislumbrei a presença de um Espírito Amigo e escutei-lhe a voz abençoada em tom incisivo: “Fala! Falaremos por ti e contigo”. Imediatamente destravaram-se-me a língua, a voz e, emocionada e celeremente, “falei” por quase 40 minutos.

Assim me iniciei nas singelas tarefas de exposição evangélica e doutrinária, a que, mercê de Deus, me encontro vinculado até o momento.

Todas as vezes que era convidado a tercer comentários sobre o Evangelho, sempre tive a impressão de ver os cenários dos acontecimentos, as personagens, como numa tela de cinemascópio, e embora o vocabulário muito limitado, sob a forte inspiração que me dominava nesses momentos, era-me e é-me possível descrevê-los e reproduzir os diálogos expressivos, em narrativas emocionantes e vivas. Vezes outras, para minha própria surpresa, sentia-me como que momentaneamente fora do corpo físico, e enquanto falava automaticamente, com ainda hoje acontece, sentia-me um espectador, não produzindo qualquer esforço mental de inteligência ou memória, durante todo o tempo da “palestra”, surpreendendo-me com as citações e o conhecimento de fatos que, no estado normal, me são inteiramente ignorados.

Em 1949, estando em Muritiba, cidade próxima desta Capital, na residência dos confrades Sr. e Sra. Rafael Veiga, em uma sessão presidida pelo co-idealista Abel Mendonça, pela primeira vez senti imperiosa vontade de escrever, vontade essa acompanhada de estranha sensação no braço, bem como de uma ansiedade de difícil descrição. Providenciados papel e lápis escrevi, então, dominado pelo mesmo estado de espírito, com celeridade, tendo começo nesse ocasião despretensiosa e involuntariamente a faculdade psicográfica de que me encontro investido.

Anos mais tarde, á medida que o exercício normal da faculdade medianímica, nas sessões semanais do Centro Espírita “Caminho da Redenção”, me ensejava melhor desenvoltura, os Amigos Espirituais, ao término de cada reunião mediúnica, ditavam uma página de comentários sobre o ocorrido durante os trabalhos, concitando-nos a todos, invariavelmente, ao estudo e à prática do Espiritismo, sem qualquer jaça, consoante os ensinos substanciais de Allan Kardec.

No mesmo ano de 1949, como já proferisse, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, pequenas conversas evangélicas e doutrinárias do Espiritismo, sob a inspiração desses mesmos abnegados Amigos Espirituais aos quais devo as melhores instruções da minha vida, o melhor carinho e a mais constante assistência, sugeriram esses Benfeitores assíduos o trabalho de comunhão com a infância menos favorecida, surgindo os planos para a “Mansão do Caminho”, que foi inaugurada a 15 de agosto de 1952, agasalhando, na atualidade, em um núcleo onde se erguem 10 lares-família, 82 crianças sem pais, e que é nossa abençoada oficina de amor fraternal.

Muitas e reiteradas vezes, amigos e confrades, nestes anos de pregação espírita e evangélica, têm-me solicitado trasladar para letra de forma as palestras proferidas, ou escrever os temas abordados. Na impossibilidade de fazê-lo, reconhecendo as dificuldades da “arte de escrever”, jamais acalentei qualquer aspiração nesse particular. Qual acontece nas palestras, a produção escrita por meu intermédio é sempre ditada pelos Benfeitores Desencarnados.

Há menos de um ano atrás, a devotada Amiga Espiritual, Amélia Rodrigues, que na Terra foi abnegada e instruída mestra, informou-me que, oportunamente, reunira material para um pequeno livro, estudando diversos dos temas, antes abordados em palestras - algumas dessas palestras por ela mesma inspiradas, ao lado de M. Vianna de Carvalho e outros lidadores da Esfera Espiritual – e, bondosamente, ditou por psicografia todas estas páginas na presença dos freqüentadores das sessões mediúnicas do citado Centro Espírita “Caminho da Redenção”, agora reunidas em volume.

Profundamente reconhecido ao Mestre Jesus por todas as dádivas com que nos há enriquecido o espírito e o coração, agradecemos, comovidos, aos Benfeitores Espirituais generosos e sábios que nos têm inspirado e socorrido, ao tempo em que pedimos escusas aos leitores que nos honrarem com a sua atenção e paciência, formulando votos de paz para todos nós.

Divaldo Pereira Franco

Salvador, 26 de fevereiro de 1967

O jovem Divaldo Pereira Franco em sua formatura como

Professor primário, no ano de 1943