segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Divaldo Pereira Franco em Ribeirão Preto, SP

Fotos: Edgar Patrocínio
Texto: Djair de Souza Ribeiro
A União das Sociedades Espíritas (USE) Intermunicipal de Ribeirão Preto escolheu a Quinta Linda Centro de Eventos para recepcionar um público com cerca de 1.500 pessoas para a Conferência Espírita de Divaldo Franco na noite de 17 de novembro de 2.018.
Divaldo Franco inicia sua conferência recuando à Polônia dos anos de 1930. Um país marcado por muitas invasões e conquistas e cujo povo sofria as injunções do preconceito do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães mais conhecido como Partido Nazista cuja onda de ódio e crueldade espraiava-se desde Berlim tendo como epicentro a figura de Adolfo Hitler “Der Führer” (O Condutor em alemão) que devotava um desprezo total a esse povo trabalhador e valoroso que trouxera ao mundo o oftalmologista e filólogo Ludwik Lejzer Zamenhof (1859-1917) cuja motivação existencial foi o de quebrar uma das grandes barreiras para a comunhão universal – a barreira da comunicação, devido às diversidades dos idiomas – dedicando-se a idealizar e criar um idioma Global: o Esperanto, a língua artificial mais falada e bem sucedida no mundo.
Seguindo com o tema Divaldo aborda a questão da Guerra – a face mais visível do egoísmo e da crueldade humana – emocionando a todos com a narrativa do Rabino Samuel que nos anos de 1930 morava próximo a um jovem alemão. Diariamente o Rabino quando passava próximo à residência do jovem alemão cumprimentava-o gentilmente:
— Guten Morgen, Herr Müller (Em alemão – Bom Dia, Sr. Müller).
O jovem orgulhoso e arrogante – envenenado pela propaganda nazista - mostrava-se indiferente à cordialidade do religioso judeu e jamais retribuíra o cumprimento.
Essa cena repetiu-se centenas de vezes, até o dia 1 de setembro de 1.939 com a invasão da pacífica Polônia, dando início à 2ª Guerra Mundial e a adoção da política de Hitler de extermínio dos Judeus.
Em uma manhã gelada do inverno europeu – véspera do Natal de 1.944 - um fila enorme é organizada em um campo de concentração. À frente da fila um oficial das temidas tropas SS nazista segurando nas mãos um rebenque examinava a cada um dos prisioneiros e determinava seu destino.
Se o rebenque fosse apontado para a esquerda o prisioneiro era arrastado às câmaras de gás e assassinado. Caso o rebenque apontasse para a direita o prisioneiro era levado para as cabanas e permanecia vivo – até a próxima vistoria.
A fila seguia sua cadência trágica - Esquerda: Morte. Direita: Vida - até que parou diante do oficial um senhor alquebrado pelos sofrimentos e em um gesto audacioso ousou dirigir a palavra ao comandante nazista:
— Guten Morgen, Herr Müller.
O soldado, que trazia afivelada ao rosto a máscara da indiferença, estremeceu ao reconhecer a voz de seu antigo vizinho e diante daqueles olhos humildes que o fitavam, apontou o rebenque para a direita. Vida!
Finda a Guerra o rabino Samuel foi convidado a testemunhar as atrocidades e participar do julgamento de vários dos carrascos nazistas que não lograram fugir ou suicidar-se.
Diante de Herr. Müller – agora prisioneiro de Guerra – o rabino voltou a cumprimenta-lo: — Guten Morgen, Herr Müller – e respondendo ao juiz que lhe indagara sobre o réu, o antigo prisioneiro dos campos de extermínio reconheceu que aquele jovem à sua frente havia-o salvado.
Ao sair do tribunal – que o condenara - o ex-soldado nazista deteve-se diante do Rabino e lhe sussurrou:
— Vielen Danke, Herr Rabino (Em alemão – Muito obrigado, Senhor Rabino).
Após essa narrativa emocionante, Divaldo aborda a ausência dos valores morais superiores e éticos associada às doutrinas materialistas, sectárias e que almejam o poder pelo poder desconsiderando os demais que pensam de maneira diferente e desprezando os valores mais básicos da Sociedade. Postura esta que transforma em inimigos – e não em adversários - todos aqueles que lhe fazem oposição ideológica. A desobediência e a desestruturação dos sistemas organizados – tais como a família, por exemplo – integra a ideologia destruidora dos valores mais caros da coletividade.
Essa ideologia que transforma o ser humano em um robô sem sentimento ao encontrar criaturas desprovidas de valores positivos e acicatadas por desordens psicológicas profundas produzem os extremistas como os anarquistas cuja filosofia é a demolição de toda forma de organização social.
Anarquistas como o italiano Luigi Lucheni - integrante de um grupo de anarquistas, politicamente ativos e favoráveis às táticas terroristas dos mais fervorosos e adeptos da Propaganda pelo Ato - que a 10 de setembro de 1898, em Genebra, Suíça, assassinou Sissi a Imperatriz.
Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip - autodeclarado anarquista radical -, em Sarajevo, na Bósnia, foi o gatilho imediato da Primeira Guerra.
Segue a Humanidade sua louca busca pelo poder sempre temporário e eclode a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) que após dizimar mais de 80.000.000 milhões de vidas termina de maneira cruel com as explosões das bombas atômicas em Hiroshima e depois Nagasaki.
Apesar da paz aparente espoca a Guerra da Coréia expressão bélica da Guerra Fria entre EUA e URSS levando a uma corrida armamentista sem precedente em toda a História da Humanidade.
Conforme o pesquisador Kenneth Boudling (1910-1993), em o livro Paz Estável, nos últimos 3.500 anos de registros históricos, o mundo só teve 268 sem conflitos armados. Somente nas guerras do século XX morreram 98.000.000 de seres humanos. O pior dessa estatística é que a maioria das guerras ocorreu por motivos religiosos. Hipocritamente alegando amar a Deus, mas odiando ao seu irmão.
A par da violência irrompe a inversão dos valores éticos e morais e parte da Humanidade mergulha no sexualismo e a degradação da família buscando fugir do mundo cada vez mais materialista, individualista e consumista sem falar na banalização do consumo das drogas a verdadeira Besta do Apocalipse do Evangelho.
As tentativas de desorganização dos valores fundamentais seguem. Freud, Nietzsche e o niilismo, Karl Max e a afirmação de que a religião é o ópio do povo, representam o máximo do pensamento materialista ateísta.
Guerras e revoluções sangrentas dominam o século XX e a libertinagem dos costumes morais – travestidas de liberdade – empurram a sociedade à conquista do nada existencial em prejuízo dos valores transcendentais.
A humanidade empanturrada de tecnologia experimenta, porém, sofrimentos emocionais e morais a se refletir nas imensas multidões de depressivos.
Divaldo faz uma pausa permitindo-nos assimilar suas palavras. Em seguida recorre ao Livro dos Espíritos para encaminhar a conclusão da sua abordagem.
Preocupado com a questão das guerras e revoluções sangrentas, Allan Kardec indaga aos Espíritos Superiores e Tarefeiros do Amor do Cristo junto à Humanidade: Que é o que impele o homem à guerra?
Ao que os Luminares da Erraticidade respondem: Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem — o do mais forte. [1]
Com base nessa questão Divaldo vem fazer o contraponto e realça o comportamento daqueles que pautam sua vida pelos valores morais nobres e deixam-se dominar pela sublimidade dos princípios religiosos existentes em todas as denominações religiosas que buscam elevar a criatura humana.
Para tanto, Divaldo retorna à Polônia de 1942 quando a perseguição aos judeus atinge o seu ápice.
Mais especificamente Divaldo situa o fato na cidade polonesa de Piotrków Trybunalski quando uma senhora judia, antes de ser presa junto com toda a família, busca o auxílio de uma vizinha e amiga católica pedindo a ela que cuidasse do seu filho - Israel Meir Lau, Lúlek como era por ambas conhecido, ainda uma criança de cinco anos - caso ela morresse e ele sobrevivesse. Nesse caso a mãe aflita pedia à amiga cristã que deveria enviar o menino para junto dos familiares que viviam na Palestina, permitindo lhe um futuro junto dos seus e das suas raízes.
Em poucos dias as tropas SS prenderam toda a família encaminhando-os a campos de concentração. Os pais de Lúlek morreram em Treblinka na própria Polônia, enquanto o menino foi enviado para o campo de Buchenwald, na Alemanha, onde permaneceu até ser libertado em 1945.
Lúlek, por ocasião da libertação, contava oito anos de idade sendo recambiado para a cidade natal pelas tropas aliadas.
Chegando à cidade, Lúlek foi mantido sob os cuidados da vizinha e amiga católica.
Após a missa dominical essa senhora buscou amparo e conselho junto ao padre da igreja que frequentava e expôs lhe suas dúvidas:
Prometera à mãe de Lúlek que o encaminharia para a Palestina, caso ele sobrevivesse, porém, encontrava-se diante de um dilema e pedia ao sacerdote católico um conselho. Desejava tornar realidade o sonho de sua amiga judia, mas, ao mesmo tempo, ansiava mantê-lo consigo e batizá-lo.
O pároco deu-lhe uma resposta rápida e segura:
— O seu dever é respeitar a vontade dos pais do menino.
Lúlek foi enviado, então, para a Palestina, que três anos depois tornou-se o Estado de Israel, onde ele se criou e foi educado dentro dos princípios do judaísmo.
Divaldo redireciona, agora, o foco dos acontecimentos e salta para o início do Século XXI, no Vaticano e mais especificamente em uma das Salas de Audiências onde o Papa João Paulo II, nascido Karol Wojtyla, recebe a visita de uma das mais altas autoridades religiosas do Judaísmo: o Grão Rabino Judeu Israel Meir Lau.
A entrevista ocorre em um clima muito cordial e o rabino – respeitando o pedido que havia sido feito pelos assistentes do Papa de ser breve na entrevista, uma vez que o Papa se encontrava com a síndrome de Parkinson - após alguns instantes, relata ao Papa a história de Lúlek e a decisão da senhora católica que, incentivada pelo padre local, enviara o menino para Israel.
O Papa considerou interessante a narrativa dessa história, mas passou a ser tocante e comovedora quando o Grão Rabino perguntou ao Sumo Pontífice:
— O senhor sabe quem era esse padre polonês?
O Papa meneou a cabeça negativamente, indicando que desconhecia o religioso que agira daquela forma.
— Era você – respondeu o Grão Rabino olhando nos olhos de Karol Wojtyla
Tomada de enorme surpresa o Papa reuniu forças e indagou do Grão Rabino:
— E você sabe onde está este menino?
O Grão Rabino quebrando o protocolo aproximou-se do Papa e segurando lhe as mãos respondeu:
— Aquele menino – Lúlek - sou eu. [2]
Grande emoção a todos dominava. O silêncio que se seguiu ao final da narrativa foi quebrado com as exortações finais de Divaldo.
E nós? O que fizemos de Jesus?
Mesmo nesses dias difíceis deixemos brilhar a luz de Jesus a iluminar os nossos dias e todos os nossos momentos e optemos por amarmo-nos a nós próprios.
Saiamos daqui com a certeza de que a vida é aquilo que dela fazemos.
As palmas que se seguiram ao poema da Gratidão traduziam o reconhecimento de todos pela mensagem de consolação e de esperança como luzes a balizar nossos passos nas sombras que buscam envolver a humanidade nos dias atuais.
Um pensamento repercutia no recôndito das almas, luarizadas pelas bênçãos que a todos envolviam:
— Não vos deixarei órgãos. Voltarei para vós.
[1] Questão 742 de O Livro dos Espíritos, FEB Editora.
[2] Relato condensado do conteúdo de o livro Lúlek. A História Do Menino Que Saiu Do Campo De Concentração Para Se Tornar O Grão-Rabino De Israel de autoria do Rabino Israel Meir Lau.