segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Registro. Divaldo Pereira Franco em Uberlândia, MG

Texto: Djair de Souza Ribeiro - Fotos: Sandra Patrocínio

Que se deve pensar dos que - recebendo a ingratidão em retribuição de benefícios que fizeram - deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?
Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita, Item 19 Benefícios pagos com a ingratidão
O Centro de Convenções de Uberlândia, Minas Gerais, acolheu em suas amplas e confortáveis instalações as cerca de 3500 pessoas para ouvirem Divaldo Franco.
Dando início à conferência espírita, Divaldo cita dados envolvendo as mortes não naturais ocorridas em 2017 no Brasil e que ceifou 115.000 vidas, vitimadas pelos acidentes viários (provocadas pela embriagues, imprudência, negligência ou imperícia) e assassinatos. Fala-nos ainda das milhões de pessoas que morrerão à fome enquanto há tanto desperdício de alimentos nas Sociedades ditas desenvolvidas.
Divaldo formula uma pergunta retórica: Qual a razão de tanta agressividade que vem acompanhando a humanidade desde seu início? Diante do Universo infinito como pode o ser humano viver preso à sua pequenez? Como pode a humanidade que vem descobrindo as maravilhas do Universo, ainda deixar preponderar a agressividade em seu comportamento?
Divaldo passa a abordar as conquistas da Ciência que permite ao ser humano deslumbrar-se com as luzes do conhecimento e dos segredos da vida, da matéria e do Universo, mas nos perdemos nas Sombras da ignorância e da agressividade.
A Ciência vem logrando obter explicações sobre as questões que de há muito nos fazíamos: O que é o Universo, qual a sua origem e como tudo isso foi construído?
Com uma habilidade primada pela simplicidade, ilustrando profundo conhecimento, Divaldo nos fala da evolução antropossociopsicológica da humanidade revelando que alimentar-se, abrigar-se e reproduzir-se compunham os instintos básicos que moviam as ações humanas.
Surge, então, a primeira emoção: o Medo que, por sua vez, gera a suspeita, a desconfiança, a ansiedade e a timidez. Logo em seguida surge a segunda emoção: a Ira a se desdobrar em raiva, ódio, o desejo de vingança. Mais um pouco e desponta a terceira emoção: o Amor, sentimento do qual Jesus é o grande expoente por divulga-lo e principalmente vivenciá-lo.
O amor é força poderosa que transforma tudo e a todos que se deixam ser por ele tocado. Nem mesmo a ingratidão tem capacidade de diminuir-lhe o poder.
Para emoldurar o conceito moral Divaldo compartilha conosco a comovedora narrativa de Francisca, humilde moradora dos Alagados na cidade de Salvador, BA e frequentadora da Mansão do Caminho.
Certa ocasião Divaldo fora chamado com urgência para atender Francisca que estava à beira da desencarnação. Lá chegando sentou-se ao lado de Francisca que reunindo suas últimas forças contou-lhe detalhes de sua vida pessoal.
Narrou que era mãe solteira pois que fora abandonada pelo venal companheiro ao tomar conhecimento da gravidez e expulsa do lar pelos pais. Essas injunções não tiveram o poder de diminuir o seu amor pelo filho, e para assisti-lo extenuava-se no trabalho de lavadeira e de vendedora de acarajé o que lhe permitiu custear todos os estudos e necessidades do filho que graças a toda a dedicação materna logrou ser aprovado no vestibular da Faculdade de Medicina, exigindo de Francisca a ampliação de seus esforços.
Sua dedicação era tanta que logrou obter – junto a um médico e habitual freguês de seu acarajé – emprego para seu filho sem identificar, contudo, que era sua mãe.
Chegara, finalmente, a data de formatura e Francisca preparara-se com esmero para aquela ocasião à qual tanto lutara e se sacrificara. Sentia que atingira o objetivo maior de sua vida. Antecipava no coração a alegria que proporcionaria ao filho ao lhe dar – na cerimônia de colação de grau – o anel de formatura.
Horas antes de seguir para o local da cerimônia seu filho a procurara no barraco e pediu à mãe que não comparecesse ao evento. Aproveitaria a ocasião para marcar o casamento com a noiva – filha única do diretor e proprietário da Clínica onde ele trabalhava – que desconhecia a existência de Francisca, informação propositalmente omitida pelo filho à futura esposa.
Francisca dissimulou o impacto emocional da ingratidão do filho e, entregando-lhe o estojo luxuoso com o anel de formatura, beijou-lhe a face dele se despedindo.
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“Deveis sempre ajudar os fracos, embora saibais de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem”. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita, Item 19 Benefícios pagos com a ingratidão.
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Francisca - respirando com extrema dificuldade pela iminência da desencarnação - reuniu suas derradeiras forças e segurando as mãos de Divaldo fez-lhe o derradeiro pedido. Caso o filho viesse procurá-lo, Divaldo devia dizer-lhe que ela não tinha pelo filho nenhuma mágoa ou ressentimento pelo simples fato de o amar incondicionalmente. Feito o pedido, desencarnou.
Semanas mais tarde - como previra Francisca – o filho buscara informações sobre a mãe e foi aconselhado a buscar Divaldo Franco que acompanhara as derradeiras palavras da mãe.
Com o coração em frangalhos destroçado pela culpa, o filho recebeu a notícia que veio arrefecer-lhe a angústia: A mãezinha não lhe guardava mágoa e naquele momento – nimbada de mirífica luz - apresentava-se à visão psíquica de Divaldo acariciando o seu menino a quem amava tanto.
Em pranto copioso e sentido de catarse, o filho de Francisca pediu uma oportunidade para assistir aos irmãos desvalidos trabalhando na Mansão do Caminho como médico voluntário. Tornou-se – afirma Divaldo concluindo a narrativa de Francisca, a vendedora de acarajés que a todos emocionaram – modelo de dedicação e amor ao próximo atendendo a pobreza e os desvalidos do bairro onde a mãezinha vivera.
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“Ah! Meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos concede reviver para chegardes a Ele”. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita, Item 19 Benefícios pagos com a ingratidão.
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A psicosfera ambiente estava dominada de sentimentos superiores que a todos envolviam. Divaldo chama-nos a atenção para o amor incomensurável de Jesus pela humanidade que pagou-Lhe com a ingratidão – pela adulteração e distorção de Seus ensinamentos - o sublime sacrifício de nos trazer o caminho para a verdadeira felicidade.
Em que pese nossa renitente ingratidão, Jesus nos envia o Consolador prometido: o Espiritismo.
Doutrina abençoada e libertadora que vem enfatizar a necessidade de amar de tal forma que deixemos pegadas pelos caminhos para aqueles que vêm depois, possam dizer:
— Por aqui passou um anjo e que deixou setas luminosas apontando o porto de segurança.
Busquemos, com todas as forças do nosso ser, alcançar a plenitude através do BEM, nunca pela força, pelo amor e não pelo ódio.
Divaldo encerrou a conferência sob ovação da imensa plateia. Enquanto suas considerações repercutiam nas mentes luarizadas com suas palavras, os exemplos da nobre Francisca – invisível vendedora de acarajé – e o Poema da Gratidão fincavam profundamente suas raízes nos corações.