quarta-feira, 6 de março de 2019

Divaldo Franco - 35° Congresso Espírita do Estado de Goiás Goiânia

Família, Vida e Paz, Goiânia
05 de março 2019

Texto: Carlyne Paiva,  Fotos: Edgar Patrocínio


No dia 05 de março de 2019, terça-feira de carnaval, Divaldo Franco realizou o seminário, de temática central “Família, vida e Paz”, no 35ᵒ Congresso Espírita do Estado de Goiás , organizado pela FEEGO.
Para abordar o tema proposto, Divaldo iniciou sua fala relembrando ao público presente sobre o mito de Tirésias, originado na Grécia Antiga, em que este famoso profeta de Tebas  foi cegado por Hera ao decidir uma questão a favor de Zeus:  ele sabia que a sua decisão levantaria a ira do o deus derrotado.
Tirésias dá razão a Zeus, dizendo que a mulher ama mais que o homem, deixando, assim, Hera, furiosa por sua derrota. Mas Zeus, compadecido e em recompensa por Tirésias ter dado a ele a vitória, deu-lhe o dom da previsão, da visão interior, pois cego para as coisas externas, poderia concentrar-se mais em seus valores internos.
Esse mito pode ser considerado uma reflexão à proposta psicológica eminentemente terapêutica de harmonia dos relacionamentos humanos, não apenas os de natureza sexual, mas também aqueles que dizem respeito a sexualidade.
Sobre a questão da visão anterior, que pode ser considerada a do mundo, e a visão atual, a do ser, Divaldo convida a rememorar Platão em um de seus diálogos, “A República”, mencionando que a   verdadeira felicidade humana depende de uma ética: sistema de valores através dos quais o indivíduo tem a paz da sua consciência. A ética é de natureza abstrata, sendo somente uma informação de natureza equilibrante. Este mesmo princípio ético é citado por   Sócrates, em uma famosa frase, para quem foi-lhe dada a autoria, mas que advém dos sete sábios da Grécia antiga: “conhece-te a ti mesmo”. Na questão 919, d’O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: “Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?” e obtém como resposta: "Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo."
 Para Platão, a verdadeira ética é o sentido de equilíbrio do indivíduo perante o próximo, a sociedade e a si mesmo, porque somente o ser humano que tem a responsabilidade pelo autoconhecimento é capaz de compreender e confraternizar. 
Ao ser sentenciado por seus acusadores, Sócrates optou em morrer, pois estava mais preocupado em ser um indivíduo ético, sem tentar se defender em absoluto, porque, para ele, não era ética, a defesa.  E quando a sua esposa lhe indaga sobre o ato de não se defender, lembrando-lhe que era inocente, ele redargui dizendo que tanto assim, melhor, porque se fosse culpado, estariam fazendo justiça.
Para Divaldo, a ética é o equilíbrio, são os dizeres de Jesus, é o Amor, é nunca devolver o mal, porque quando o mal nos perturba, não nos faz mal:  se não dermos valor, ele não tem nenhum sentido. Cita Aristóteles e o ideal de beleza, afirmando ser necessário uma ética, que só possui fundamento se estiver dentro de um conceito estético, que deve estar no bom comportamento e no bem conviver.

Para desenvolver melhor sobre a ética, também menciona Saulo de Tarso, que na cidade de Damasco, carrega cartas para prender Ananias e assim desbaratar o primeiro grupo de cristãos fora de Jerusalém. Mas, eis que uma luz cinde do céu, quebrando a do sol e cegando-o. Era Jesus, que em sua ética lhe pergunta sem nenhum subterfúgio: “A quem persegues?” E, como o servo que reencontrou ao seu senhor, Saulo pergunta, em uma decisão ética “o que queres que eu faça?”.
Divaldo, numa pergunta retórica, indaga por que se aceita Jesus, para logo após responder que somente Ele preenche o vazio existencial. Este advém da visão do mundana, que é transitória. Já a visão interior é o mundo de uma concepção, é a beleza que está dentro de nós, que é deus e está miniaturizado no ser em que  se é  constituído. Por isso,  vem a necessidade do amor familiar, doméstico, pois a doutrina espírita é a do equilíbrio da família, sem que haja nenhuma submissão entre seus constituintes, mas sempre pregando a  harmonia.
Humberto de Campos, no livro:  A Boa Nova, narra um episódio em que Maria vai visitar Isabel  e enquanto as duas estão conversando, João e Jesus, que então por volta de 4 a 5 anos de idade,  vão até à beira de um precipício. Maria pergunta  a seu filho, o que fora fazer ali e ele responde-lhe: “vim tratar de assuntos de meu Pai”. Nesta passagem da vida de Jesus, duas famílias se apresentam:  a de Isabel e a de Maria, mas acima de tudo, Jesus menciona que a sua não é a família biológica, consanguínea (a mesma que tem o dever de educar para oferecer o indivíduo ao mundo), mas, sim,  a família espiritual. Nos três primeiros séculos depois de Cristo,  a verdadeira família,  do ponto de vista cristão,  é a dos homens do caminho, dos cristãos.
 Jesus não veio fundar uma religião, pois ele era o Amor. Ele coloca como fator primordial amar-se para se fazer a viagem interior do autoconhecimento, tendo em vista que,   depois do amor a si próprio, adquire-se a ética e logo após,  a estética, para amar ao próximo.

O Espiritismo não são os espíritas, o movimento espírita é o grupo de indivíduos que está em reforma íntima sob a luz abençoada da doutrina.  Logo, se alguém delinque, a decepção não deve ser com o Espiritismo, por se tratar de uma adulteração do indivíduo. A decepção deve ser com o homem. O Espiritismo exige a prática da caridade para conosco mesmo e essa prática  é a proposta de Zeus, no mito de Tirésias: é a visão interna, a iluminação, a busca do ser que somos, no corpo que estamos.
A família é o lugar que Deus colocou o ser humano para desenvolver experiências iluminativas. Afim de  exemplificar este item,  Divaldo Franco narra uma passagem da vida de Archibald Joseph Cronin, presente em seu livro autobiográfico, “Pelos caminhos da Minha vida”, escrito em 1952. Certa feita, quando estava na Itália, Cronin conheceu dois garotos, entre 10 e 12 anos, que vendiam mercadorias na rua, as quais o escritor escocês comprou, tornando-se conhecidos dos meninos. Estes, pertencentes a uma família dantes abastada, tornaram-se órfãos de guerra e recusaram-se a pedir esmolas, preferindo trabalhar. Aos domingos, pontualmente, iam visitar a irmã adoentada numa clínica de ortopedia traumatológica e trabalhavam para pagar semanalmente o tratamento desta, mostrando assim, um exemplo de família. Essas crianças não tinham pais encarnados, mas ao cuidar uns dos outros, constituíam verdadeira família.

Divaldo conta-nos ainda uma passagem de sua vida em que, andando pelas ruas de salvador, viu um  homem  desconhecido desmaiar.  Visando socorrer aquele transeunte, chamou um táxi para levá-lo a uma clínica de saúde.  Correndo até a recepção do hospital, a recepcionista aconselhou-o a não se envolver com aquele homem necessitado de auxílio, mas que não era de sua família biológica. Porém, com a insistência de Divaldo em auxiliar, o diretor do hospital intervém e presta os primeiros socorros ao homem ainda anônimo.
Já com o paciente fora de perigo, o diretor convida Divaldo para ir até a sua sala e lhe conta a história: sua mãe era descendente de alemães e seus pais vieram para o Brasil após a segunda guerra mundial. Dois anos depois seu pai morreu e sua mãe, que não falava o idioma português e que estava tendo dificuldades de adaptação em Salvador,  foi lavar roupas às famílias ricas.  Já na juventude, disse à sua mãe que queria ser médico e ela não mediu esforços para que ele pudesse estudar.  Na semana da formatura, a mãe chamou-lhe,  e ele,  por sua vez,  encontrou-a morrendo, vítima de tuberculose. E, num diálogo comovedor, a mãe falou-lhe sobre não poder ir à formatura, mesmo querendo estar presente. Por causa de episódio, tornou-se tisiologista.
Divaldo Franco, encerra sua palestra dirigindo-se aos ouvintes, agradecendo-os  de maneira comovedora e dizendo que esses integram a sua família universal e espiritual.

(Recebido em email de Jorge Moehlecke) 

(Recebido em email de Jorge Moehlecke) 

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