19-11-2015
Na noite desta quinta-feira, 19/11, o médium e orador espírita Divaldo Pereira Franco proferiu uma conferência pública na cidade de Descalvado/SP., no salão nobre do Lar São Vicente de Paulo, com a presença de 1200 pessoas.
“Estes Dias Tumultuosos”, a autobiografia escrita por Pierre van Paassen, jornalista, escritor e ministro da igreja unitarista, serviu de base para a narrativa emocionante que compôs as reflexões da noite em torno do comportamento humano e de seus embates no processo evolutivo.
A trágica e comovente história de Ugolin e Solange, narrada pelo jornalista holandês no final da década de 30, descreve a tormentosa realidade da criatura humana, que segue, ainda hoje, preferindo a crueldade, a violência e o ódio ao amor. Pierre van Passen conheceu Ugolin, adolescente francês que possuía deformidades em seu corpo, era corcunda e considerado assustador, em uma de suas peregrinações à noite para o socorro aos sofredores. Deste primeiro contato e dos demais que se seguiram, das conversas demoradas, das visitas de Ugolin ao jornalista, surgiu uma valiosa amizade, estabelecida pelos mais puros e sagrados laços da ternura, da fraternidade e do amor. Ugolin e sua irmã Solange tiveram uma infância marcada pelo sofrimento e conflitos familiares. Experimentando a orfandade muito cedo, foram obrigados a sair na rua para procurarem recursos para a própria sobrevivência. A irmã, por recusar-se aos convites libidinosos de seu patrão, foi por ele injustamente acusada de furto e, por isso, levada ao cárcere por 2 anos. Ao sair, sabendo que o irmão houvera tido grave piora em seu quadro de saúde e necessitava de internação hospitalar e medicações, por não conseguir emprego, em razão de seu passado de presidiária, decidiu-se por buscar a prostituição como forma de obter recursos financeiros para o socorrer. Após o seu reestabelecimento, Ugolin, em determinada noite em que retornava para casa, foi amarrado a um poste por jovens alcoolizados, que o despiram, ridicularizaram e humilharam, ofendendo também sua irmã. A sarcástica e cruel ação só foi interrompida quando o Abade de La Roudaire, sacerdote local, correu para salvá-lo, espantando os algozes e carregando Ugolin em seus ombros até sua residência, onde ofereceu-lhe conforto moral e cuidados, prometendo conversar mais no dia imediato. Contudo, pela manhã, o abade não o encontrou no leito onde o tinha deixado. Quando realizava a missa matinal, ouviu os gritos de um jovem que adentrava a igreja, anunciando que Ugolin havia suicidado-se nas águas do rio. Solange, sua irmã, ao receber a notícia trágica, sucumbiu ao desespero e suicidou-se também. Conquanto a igreja proibisse rezar-se missas para suicidas, o abade de La Roudaire providenciou o funeral para ambos, dentro da igreja, oferecendo uma missa especial para os irmãos, que ficou completamente lotada pela população local. Na cerimônia, após orar junto aos corpos, virou-se para o público e falou em tom enfático aos cristãos que no dia em que tivesse de se apresentar ao Senhor da Vida e Ele perguntasse sobre onde estavam as Suas ovelhas, ele, abade, nada responderia. E que, se o Senhor insistisse na pergunta, ele permaneceria silente; mas que se a pergunta fosse repetida por terceira vez, ele declararia, bradando, que não havia ovelhas entre aqueles ditos cristãos senão lobos vorazes, devoradores de vidas, porque, considerou o abade, não se tratavam de dois suicídios, mas de assassinatos de jovens que não puderam resistir à impiedade, a crueldade e a maldade humanas.
Considerou Divaldo, então, que na vida de todos nós ocorrem fenômenos que, de uma hora para outra, modificam totalmente a nossa trajetória existencial e a nossa forma de viver.
Reflexionando sobre a história daquelas almas massacradas pela impiedade e violência das criaturas humanas e a falta de respostas de Pierre van Paassen e do Abade de La Roudaire para tais acontecimentos, o orador ressaltou que as explicações só poderiam ser encontradas nas luminosas lições do Espiritismo, surgido a 18 de abril de 1857, em Paris, pelo trabalho hercúleo de Allan Kardec e de uma plêiade de Espíritos iluminados que compuseram a falange do Espírito de Verdade.
A Doutrina Espírita, conforme esclarecido, é uma ciência de consequências filosóficas e éticas, que comprova a imortalidade da alma e a reencarnação, isto é, as experiências físicas sucessivas em diferentes corpos humanos, dando-nos a conhecer sobre a lei de ação e reação, também chamada de lei de causa e efeito, que é a base da justiça divina e nos faz compreender as causas atuais e anteriores (de outras reencarnações) das nossas aflições.
Seguindo nos esclarecimentos sobre o Espiritismo, Divaldo ressaltou que a base ético-moral da doutrina é o Evangelho de Jesus, cujo ensinamento maior e central é a lei de Amor. Esse sentimento de excelência, ultrapassando as barreiras religiosas, constitui-se verdadeira proposta psicoterapêutica, recurso essencial para a manutenção de nossa saúde integral (física, emocional e espiritual), conforme asseveram a Psicologia moderna, a Medicina e a Física Quântica.
Foi analisado, também, o comportamento consumista, sexólatra e individualista dos seres humanos, que vagam pela experiência reencarnatória sem um ideal nobilitante, sem um sentido profundo para a vida, experimentando, em virtude disso, o vazio existencial e derrapando nos dolorosos transtornos psicológicos e psiquiátricos, como a depressão, a bipolaridade, o TOC etc.
A profilaxia e o tratamento para tais situações é, exatamente, a busca de um sentido existencial profundo, que para o Espiritismo, é a imortalidade, a destinação inevitável de todos nós. Ante a inexorabilidade da morte física e do retorno à vida espiritual, torna-se imperioso que cuidemos de nossa conduta na Terra, solucionando os nossos conflitos íntimos, transformando-nos moralmente para melhor, evitando sermos arrastados pelas nossas más paixões, a fim de nos preparamos para a viagem de retorno ao além e, dessa forma, garantirmos uma agradável posição no mundo transcendente, rica de paz e felicidade.
Segundo o palestrante, não haveria nenhuma outra fórmula para atingirmos tal desiderato senão aquela exarada na admoestação de Jesus: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Nestes dias tumultuosos, de guerras, ódios, violência, intolerância e sofrimentos variados, em que as criaturas estão armadas material e emocionalmente umas contra as outras, é urgente que adiramos à proposta de Jesus, reconhecendo que somos parte de um todo e que o mal, em qualquer lugar que se manifeste, atinge-nos diretamente, dessa maneira, amando mais, mudando a nossa conduta para melhor, sendo mais gentis, tolerantes, pacíficos e pacificadores, para que as transformações positivas individuais formem uma sociedade mais justa, harmônica e feliz.
Texto: Júlio Zacarchenco
Fotos: Edgard e Sandra Patrocínio
Nenhum comentário:
Postar um comentário