03 e 04 de março 2019
Texto: Djair de Souza Ribeiro, Fotos: Edgar Patrocínio
Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
Uma vez mais o Centro de Convenções de Goiânia foi escolhido pela Federação Espírita do Estado de Goiás (FEEGO) para a realização do 35º Congresso Espírita do Estado de Goiás com o tema Família, Vida e Paz.
Na manhã do dia 03 de março no Teatro Lago Azul e ainda na tarde do dia 04 de março nas dependências do Teatro Rio Vermelho, Divaldo Franco desenvolveu o tema “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”.
A presente síntese abarca ambas as conferências.
Divaldo inicia referindo-se ao criminoso mais famoso da história: Alphonse Gabriel mais conhecido mundialmente como "Al" Capone (1899 - 1947). Esse gângster ítalo-americano liderou um grupo criminoso dedicado ao contrabando e venda de bebidas entre outras atividades ilegais, durante a Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos nas décadas de 1920 e 1930 do Século XX.
Sua fama ficou patente num crime bárbaro pelo qual sete (7) pessoas foram cruelmente assassinadas e que passou à história como o Massacre do Dia de São Valentim ou Massacre do Dia dos Namorados, pois foi cometido no dia 14 de fevereiro de 1.929 data consagrada às comemorações do Dia dos Namorados nos EUA.
Al Capone tinha um advogado – famoso por livrar o gângster com facilidade da cadeia - apelidado de “Easy Eddie” (1893 - 1939), um excelente profissional cuja maior habilidade estava em manobrar no cipoal de leis americanas para manter seu cliente - Al Capone - distante da prisão.
Em retribuição o gângster mafioso, pagava regiamente seu advogado, fornecendo-lhe uma mansão que ocupava um quarteirão inteiro em Chicago.
Indiferente às atrocidades praticadas por seu cliente, o advogado e sua família desfrutavam de uma situação econômica confortável, além de pertencerem aos quadros sociais mais destacados da sociedade local.
“Easy Eddie” providenciava tudo quanto o dinheiro pudesse adquirir ao seu filho, inclusive as melhores escolas.
Impossibilitado de dar bons exemplos, o advogado – paradoxalmente - sempre reiterava ao filho a importância dos bons valores morais, enfatizando as ações corretas e as incorretas. O advogado do mais cruel assassino buscava com seu empenho tornar o filho melhor do que ele fora.
Seja por ter-se cansado de ver as atrocidades à sua volta, seja pela voz da consciência ou ainda como um legado de bom exemplo de conduta moral ao filho, “Easy Eddie” tomou uma decisão difícil na busca por corrigir as injustiças de que havia participado como advogado de Al Capone.
Procurou as autoridades federais contando-lhes a verdade sobre seu cliente na tentativa de limpar seu nome enlameado, permitindo ao filho usar com orgulho o nome familiar.
No dia do julgamento o advogado – mesmo ciente de que seria executado por esse gesto – testemunhou contra o ex-patrão, condenado a onze (11) anos na prisão federal de Alcatraz pelo crime de sonegação do Imposto de Renda.
Passado algum tempo desde o testemunho no Tribunal, “Easy Eddie” foi morto a tiros enquanto dirigia pelas ruas de Chicago. Levado, anda com vida, ao Hospital local o advogado sabia que morreria, porém aos olhos dele, ele tinha dado ao filho o maior exemplo que poderia oferecer, mesmo diante do maior preço que poderia pagar: a própria vida.
A polícia recolheu em seus bolsos um rosário com crucifixo e um recorte de uma revista com um pensamento que dizia:
“O relógio da vida recebe corda apenas uma vez e nenhum homem tem o poder de decidir quando os ponteiros pararão, se mais cedo ou mais tarde”.
“Agora é o único tempo que você possui”.
“Viva, ame e trabalhe com vontade”.
“Não ponha nenhuma esperança no tempo, pois o relógio pode parar a qualquer momento”.
Divaldo faz uma breve pausa para em seguida referir-se novamente a Chicago de Al Capone que além do gângster, foi, também, a cidade que ofereceu aos EUA um dos seus maiores heróis durante a Segunda Grande Guerra Mundial: O tenente-comandante Edward Henry O'Hare (1914 - 1943) piloto da Marinha dos Estados Unidos, que em 20 de fevereiro de 1942 tornou-se o primeiro ás voador da Marinha que atacou - mesmo sozinho e tendo uma quantidade limitada de munição - nove (9) aviões bombardeios japoneses que se dirigiam para atacar o porta-aviões americano “USS Lexington”. Somente era considerado um “ás” o piloto que abatesse em uma única batalha mais do que cinco (5) aviões inimigos.
Audaciosamente, sem se preocupar com sua própria segurança, ele abateu ou danificou muitos das aeronaves inimigas, sendo, por essa façanha, o primeiro piloto naval a ser laureado com a Medalha de Honra na Segunda Guerra Mundial. A imprensa rapidamente apelidou de “Butch O’Hare” (algo como “O’Hare o Exterminador”, em português).
No ano seguinte “Butch O’Hare” morreu – aos vinte e nove (29) anos - em combate aéreo.
A Chicago de Al Capone e dos crimes bárbaros do passado, não permitiu que a memória de “Butch O’Hare” o herói da Segunda Guerra desaparecesse, e hoje, o Aeroporto da cidade, um dos mais movimentados e importantes dos EUA e do Mundo, tem o nome de Edward Henry O'Hare em tributo à coragem deste grande homem.
Após a exposição dessas duas (2) narrativas Divaldo conclui:
Ambas as histórias têm algo em comum e não se deve ao fato de envolverem a cidade de Chicago. O ponto de atração entre elas é que “Butch O’Hare”, o herói da Guerra, era o filho de “Easy Eddie” o advogado de Al Capone cujo exemplo de sacrifício em favor do que era moralmente correto acabou por permear o comportamento e a índole do filho.
* * *
Allan Kardec indagou aos Espíritos Superiores (questão 208 de O Livro dos Espíritos):
Nenhuma influência exercem os Espíritos dos pais sobre o filho depois do nascimento deste?
E a resposta dos Tarefeiros do Amor do Cristo não deixa margem a qualquer dúvida sobre a responsabilidade dos pais:
“Ao contrário: bem grande influência exercem. Conforme já dissemos, os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho.”
* * *
Com acurado conhecimento em torno do Evangelho de Jesus associado aos fatos históricos, sociais e culturais da Palestina de Jesus, Divaldo vai enumerando diversas passagens do Mestre desde a constituição de Sua família, passando pelos fatos ligados à sua infância, adolescência e juventude até culminar com o início da Sua missão de amor.
O Evangelista Marcos (Capítulo 3:20 a 35) nos relata de que estando Jesus em Cafarnaum, Seus parentes (Sua mãe Maria e os filhos de José com a esposa de seu primeiro matrimônio e já falecida), residentes em Nazaré – cerca de 30 km de Cafarnaum - vieram ter com Jesus, pois que Seus Irmãos o consideravam "fora de si" e foram depressa "para segurá-lo", a fim de impedir que Seu entusiasmo e Sua exaltação mística lhes prejudicassem diante das autoridades.
Quando da chegada dos parentes, Jesus é informado da presença deles, ao que o Mestre de Amor questiona ao interlocutor:
— Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?
A pergunta, aparentemente desrespeitosa para com Sua mãe, vem demonstrar que Jesus, em Sua missão, não está preso pelos laços consanguíneos. A família espiritual é muito mais sólida, pois os vínculos são espirituais e não materiais, razão pela qual Jesus não pode subordinar-se às exigências do parentesco terreno, mesmo em se tratando de Sua mãe.
Com o olhar benévolo sobre os que O cercavam, Jesus lança mais um ensinamento superior de Sua doutrina inigualável: a de que o ideal é superior aos laços de sangue.
Devemos nos lembrar de que os irmãos de Jesus não partilhavam dos Seus ideais, sendo mais inclinados à postura dos inimigos do Mestre. Com respeito a Sua mãe, não há como duvidar de sua ternura e extremada dedicação, contudo, apesar de seu acendrado amor maternal ela não fazia ideia muito precisa da missão do filho.
Após essa abordagem rica e esclarecedora Divaldo conclui sua abordagem alertando:
O grupo familiar é conquista nobre do processo de desenvolvimento humano.
A família, por essa razão, tornou-se a célula mater. do organismo social onde se desenvolvem os sentimentos, a inteligência, e o ser espiritual desperta para as realizações nobres da vida.
Por isso, toda vez que a família se desestrutura a sociedade cambaleia, a cultura degenera, a civilização se corrompe.
Famílias há que contêm integrantes que odeiam a outro ou mutuamente entre si.
E para emoldurar esse pensamento, Divaldo narra a história de beligerância – aparentemente gratuita – que prevalecia entre uma irmã sua e o pai de ambos.
O ódio entre pai e filha era recíproco a ponto de ambos alimentarem o desejo de eliminar ao outro sem que fosse detectada a causa de tanta animosidade. Essa situação – inexplicável - perdurou por longos anos até que Divaldo em um desdobramento espiritual logrou identificar a causa que remontava a encarnações transatas do pai e da irmã.
Em épocas passadas – o agora pai – era um explorador de mulheres no comércio das sensações inferiores e entre as mulheres que ali estavam, havia uma que era sua preferida e amante – aquela que pelas leis do amor de Deus nascera-lhe agora como filha para transmutar as emoções asselvajadas e sublimar as energias instintivas em o verdadeiro amor.
Descoberta a causa, Divaldo envidou todos os esforços para equacionar as dificuldades entre um e outro. Quando o pai aproximava-se da desencarnação Divaldo instou para a irmã dar ao pai – por ela odiado – o perdão no leito de morte que aos dois felicitaria removendo o ódio e as dificuldades. Ambos – pai e filha – abraçaram-se demoradamente perdoando-se mutuamente. Ele retorna ao Plano Espiritual compreendendo a grandeza e sabedoria das Leis Divinas e ela liberando-se de injunções e constrições que lhe permitiram redirecionar os passos alterando a direção existencial.
Após essa narrativa que a todos calou profundamente, Divaldo segue conceituando e nos trazendo sugestões e orientações na condução cristã do núcleo familiar, pois a família, sem qualquer dúvida, é uma fortaleza segura para a criatura resguardar-se das agressões do mundo exterior, adquirindo os valiosos e indispensáveis recursos do amadurecimento psicológico, do conhecimento, da experiência para uma jornada feliz na sociedade.
A família está emitindo um vigoroso pedido de socorro à sociedade em geral. Esse grito por ajuda alcança as mentes e os corações, convidando à reflexão e á ação imediata no dever e no bem, assim como à seriedade no que diz respeito aos compromissos domésticos, à renúncia em benefício dos filhos e ao respeito recíproco dos cônjuges, que se comprometeram a educar os filhos a eles emprestados por Deus.
Nem sempre compreendida, especialmente nos dias modernos, a família permanece como educandário de elevado significado para a formação da personalidade e desenvolvimento afetivo, por meio dos quais se torna possível ao Espírito encarnado obter a felicidade.
A conduta dos pais deve priorizar a educação – aquela que forma caráter e estabelece valores morais e éticos – e a exemplificação, pois educar é oferecer exemplos, posto que o educando copia com mais facilidade as lições que lhe são apresentadas, do que as teorias com as quais ele é informado.
Se os exemplos no lar são repletos de amor, de respeito e de paciência, os filhos tornam-se afáveis, dignos e gentis, excetuando-se, evidentemente, os filhos portadores de transtornos de conduta.
A progenitura demanda sérios compromissos e responsabilidades que não podem ser abdicadas sem consequências.
Na família, o amor nobre e sem sentimentalismo exagerado torna-se indispensável ao êxito da proposta educativa. É através da sua doação, que ele se multiplica e mais se desenvolve, tornando-se imbatível.
A verdadeira e real educação necessita resgatar os valores ético-morais que foram relegados a plano secundário, elaborando a conscientização da responsabilidade do ser perante si mesmo, o seu próximo e a vida, na qual se encontra sem possibilidade de fuga.
É importante recurso, contribuindo, para o equilíbrio de todos os membros que constituem a família o estudo do Evangelho de Jesus no lar. Reunindo-se semanalmente os familiares para conversação salutar e esclarecimento de dificuldades nos relacionamentos, configura-se saudável oportunidade para o bom desenvolvimento ético-moral, atenuando incompreensões e corrigindo dificuldades. A participação no culto do Evangelho no Lar não deve ser compulsória, mas estimulada, incentivada.
Os deveres dos pais para com seus filhos estão gravados na consciência, cabendo-lhes, por decorrência, a sublime tarefa de educa-los, deveres esses que não podem ser adiados sob pena de lamentáveis consequências.
“A criança é argila moldável, aguardando as mãos do diligente oleiro que lhe dará forma e conteúdo. Esse oleiro hábil é o educador, que deve modelar o ser social digno, de forma que possa construir a sociedade harmônica. A paz do mundo depende da educação da infância”.
Joanna de Ângelis em o livro Constelação Familiar, capítulo 10 Educação e Paz na Família
(Recebido em email de Jorge Moehlecke)
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