04 de março 2019
Texto: Djair de Souza Ribeiro, Fotos: Edgar Patrocínio
Diante de uma plateia superior a 2.000 pessoas, Divaldo Franco recorre ao enorme cabedal de conhecimentos históricos de que é detentor e inicia sua conferência evocando os longínquos dias do início do Século XX.
Em 21 de novembro de 1918 o Palácio de Versalhes acolhia um número muito grande de representantes de vários países. Naquela data era assinado o Tratado de Versalhes que oficialmente colocava um ponto final na Guerra Mundial – conhecida na época como a Guerra das Guerras – e que devastou a Europa entre os anos de 1914 e 1918. Coroando o esforço para se evitar a ocorrência de uma nova guerra foi criada a Liga das Nações.
Todos respiraram aliviados e repletos de esperanças. Nunca mais haveria Guerra!
Em 01 de setembro de 1939, as tropas nazistas invadem a Polônia e tem início a Segunda Guerra Mundial e que duraria até 05 de setembro de 1945.
Em sua época, preocupado com essa beligerância ancestral da criatura humana Allan Kardec indaga aos Tarefeiros do Amor do Cristo na questão 742 de O Livro dos Espíritos:
Que é o que impele o homem à guerra?
Ao que os Representantes do Cristo responderam:
“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem — o do mais forte”.
Diante da resposta Kardec volta a indagar na questão 744:
Que objetivou a Providência, tornando necessária a guerra?
E a resposta da Espiritualidade Superior foi:
“A liberdade e o progresso.”
O século XX, marcado pelas duas (2) grandes guerras que ceifaram mais de 100 milhões de vida torna-se um campo fértil para as filosofias pessimistas e materialistas cujo expoente é Jean Paul Satre(1905-1980) para o qual Deus não existe e, portanto, não há, também, a natureza humana, posto que não há Deus para concebê-la e assim a única natureza do ser humano é a biológica, ou seja, a sobrevivência. Não existindo Deus não existem igualmente “prontos” valores ou leis morais que possam nortear o ser. Estamos sós e sem necessidade de justificativas para os nossos atos e comportamentos.
Emoldurando esse pensamento Divaldo narra a história de Meursault, personagem do livro O Estrangeiro de Albert Camus – auto proclamado discípulo de Satre - que retrata bem o comportamento existencialista a e a frieza com que age diante das situações. Que incapaz de sentir qualquer tipo de emoção comete um crime pelo qual é condenado à guilhotina. Somente nos instantes finais de sua vida o protagonista deixa se tocar pelos sentimentos e emoções. Para ele, porém, era tarde demais.
As correntes do pensamento Existencialista advogam a morte dos ideais, posto que não há razão para se viver com padrões morais tendo comportamento ético se tudo pode acabar repentinamente com o apertar de um botão deflagrando a Guerra Nuclear e extinguindo a vida planetária.
Faz 280 anos aproximadamente que um pensador inglês - Thomas Heart - anunciava: "O ser humano perdeu o endereço de Deus".
Na verdade, enfatiza Divaldo ampliando o pensamento, eu diria que o ser humano perdeu igualmente o endereço de si mesmo, fato que o leva a viver exclusivamente para atender questões imediatas empurrando-o para o individualismo, o sexualismo e o consumismo esquecendo-se do AMOR.
Para que a paz estabeleça-se é necessário que a criatura preencha sua existência com uma meta, um sentido psicológico profundo Ilustrando essa consideração, Divaldo cita o exemplo de vida de Viktor E. Frankl, autor dos livros Em Busca de Sentido e Um Sentido para a Vida. Sobrevivente dos campos de extermínios nazista adotou o firme propósito – transformado em objetivo existencial – de sobreviver para poder denunciar ao mundo as atrocidades sofridas durante aquele período. Sintetizando sua forma de encarar a vida o célebre psiquiatra afirma: “Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. Ser um ser humano, é trabalhar por algo além de si mesmo. A vida para ser digna tem que ter um objetivo; Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como”.
Na mesma linha de pensamento o pai da Psicanálise Analítica, Carl Gustav Jung considerava: “É necessário que cada um de nós tenha, na existência, uma meta, a fim de que essa existência dê-nos a maturidade psicológica. O indivíduo não realiza o sentido da sua vida se não conseguir colocar o seu Eu a serviço de uma ordem Espiritual. Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
A partir desses pensamentos, Divaldo delineia os dias graves da atualidade da sociedade humana a qual, concentra todos os esforços e energias quase que exclusivamente aos objetivos imediatistas em prejuízo daqueles transcendentais. A libertinagem dos costumes morais – travestidas de liberdade – empurra a sociedade à conquista do nada existencial em prejuízo dos valores transcendentais.
A humanidade empanturrada de tecnologia experimenta, porém, sofrimentos emocionais e morais a se refletir nas imensas multidões de depressivos.
O resultado dessa opção vem se refletindo nas estatísticas oficiais e a OMS espera já para o ano de 2025 que as mortes provocadas pelos efeitos da Depressão ultrapassarão os óbitos de câncer e cardiopatias, que hoje lideram as causas de morte. Os efeitos da Depressão levarão a um aumento estarrecedor dos suicídios, hoje já tão elevados.
O mecanismo que acarreta esse desfecho trágico é insidioso e gradativo: A tristeza somatiza-se em Angústia. A angústia leva à Perda do Sentido existencial, que por sua vez gera a Perda de Afetividade que vai levar à Depressão.
A depressão gera o Vazio Existencial que leva, por final, ao desejo de morrer.
Não se trata de que desejamos a morte. Na realidade aspiramos a “libertação” da terrível Angústia e do Nada Interior.
Foi somente a partir do Século XX que a Psiquiatria passou a melhor entender a Depressão e classificando-a como Unipolar (tristeza, desinteresse pela vida) e Bipolar (alternando a tristeza com a euforia).
A busca de um sentido para a vida, passa pelo despertar da consciência a exigir um grande e constante esforço, preço que muitas vezes não estamos dispostos a pagar. Para “atender” ao convite da transformação, muitas vezes em um mecanismo de fuga passamos a acompanhar este ou aquele “médium” ou outro Guia. Além de ser mais fácil e cômodo, meu Ego mostra que está fazendo algo para se transformar quando na realidade não passa – na grande maioria das vezes – de uma atitude escapista, pois caso ocorra algo errado eu posso jogar a culpa no “guru”.
O que fazer quando esse “Guru” desaparecer ou cuja pregação for desmentida pelos seus reais atos (os falsos profetas)?
A melhor escolha e a mais correta é a de fazermos as nossas próprias escolhas assumindo a responsabilidade por elas.
E para tanto, Divaldo, agora, apresenta-nos a medicação: A Doutrina Espírita – nos seus aspectos religiosos, filosóficos e científicos - é capaz de preencher esse vazio existencial, por nos oferecer metas que concorrem para o real sentido da vida: a evolução intelecto-moral. A de sermos hoje, melhores do que ontem e amanhã melhores do que hoje.
O Espiritismo vem despertar a nossa consciência para a necessidade de encontrarmos um sentido psicológico para a vida deixando a fase do primarismo representado pelos instintos e as sensações.
A solução para essas crises e o retorno ao estado de equilíbrio, individual e social, estariam na vivência da proposta terapêutica do Evangelho de Jesus, na sua pureza, conforme aclarado pelo Espiritismo. O sentido da vida, conforme nos ensinou Jesus, é AMAR e a medicação que vem nos auxiliar a substituir o vazio existencial é solidariedade, servir.
Divaldo encerra a palestra colocando-se respeitosamente em pé, apesar das fortes dores que o acometem e emocionando-nos a todos luariza nossa noite com o Poema da Gratidão.
“É fundamental, à criatura humana, em sua vilegiatura carnal, encontrar o sentido existencial. A perda desse objetivo condu-la ao desespero ou à indiferença por tudo quanto lhe acontece, empurrando-a pela via da morte emocional, sem que tenha estímulos para as lutas que se apresentam, convidando-a ao crescimento e à felicidade”. Joanna de Ângelis.
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