20/02/2016
O convite ao autoperdão formulado na véspera ainda repercutia nas mentes e também nos corações que haviam participado do culto do Evangelho.
Um novo ânimo luzia nos olhos expectantes de todos naquela manhã radiosa de verão.
Assumindo a tribuna Divaldo estabelece o roteiro para a Libertação do Mal. A terapêutica será de natureza psicológica, a partir daquele que é maior adversário do nosso processo evolutivo: o egoísmo.
E é no Espiritismo que Divaldo inicia a compreensão e entendimento do real significado em nossas vidas do egoísmo e, para tanto, cita o questionamento de Allan Kardec aos Venerandos Espíritos identificado em O Livro dos Espíritos pela questão 913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?
E os Bons Espíritos respondem: Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. (Capítulo XII, Da Perfeição Moral)
Fica claro o egoísmo, sem dúvida o maior inimigo de nossa plenitude.
Como a abordagem terapêutica será pela Psicologia, Divaldo busca equalizar os diferentes níveis de conhecimento existente na plateia e resume didaticamente e de forma muito clara a trajetória das diversas psicoterapias surgidas e as histórias de seus principais protagonistas.
Inicia por Jean-Martin CHARCOT (1825-1893) quando em 1880 busca tratar a histeria mediante a utilização do hipnotismo. Os resultados obtidos ganham visibilidade mundial, atraindo a atenção de um jovem médico neurologista de Viena: Sigmund Freud (1856-1939) que se desloca até Paris para aprender diretamente com Charcot a técnica.
A hipnose representou um grande passo para compreender a mente humana, mas era insuficiente para entender as razões de haverem tantos doentes sem a manifestação de doenças.
Perseguindo seu objetivo de interpretar a criatura humana, Freud vai palmilhando os comportamentos humanos e finalmente logra identificar serem os conflitos no subconsciente os principais geradores dos distúrbio. Nasce a psicanálise e a notável contribuição de desmistificar o sexo considerado pela Religião dogmática como imundícia.
Parafraseando Paulo de Tarso que na Epístola aos Romanos (14:14) anotou: Como uma pessoa que está no Senhor Jesus, tenho plena convicção de que nenhum alimento é por si mesmo ritualmente impuro, a não ser para aquele que assim o considera; para esse é impuro Freud estabelece que o sexo somente é impuro para aquele que assim o igualmente considera.
A humanidade começa a sair das trevas da ignorância no tratamento dos conflitos e distúrbios psiquiátricos. O impacto da Psicanálise de Freud atrai a atenção do psiquiatra e psicanalista suíço Karl Gustav Jung (1875-1961) que se junta ao Pai da Psicanálise. Ambos, porém, se afastam irreconciliavelmente. Freud considerava Jung por demais místico, enquanto
que Jung considerava que nem todos os problemas decorriam da libido.
Jung formula novos conhecimentos e técnicas e surge então a Psicologia analítica.
Nesse instante Divaldo passa a esclarecer e a definir o significado dos principais termos e expressões específicas da Psicologia (Consciente, Subconsciente, Inconsciente Individual, Inconsciente Coletivo, Ego e Self) com destaque para a expressão Arquétipos (marcas antigas) adotada por Jung para caracterizar os nossos conflitos, Dá-se conta Jung que somos compostos por uma duplicidade: O Self (aquilo que somos) e o Ego (aquilo que
aparentamos, a máscara).
Na realidade somos o Self, que agrega as experiências de todas as gerações, e que contém nosso inconsciente coletivo e que é denominado pelo Espiritismo de Perispírito. Já o Ego é a nossa personalidade, e que o Espiritismo esclarece serem as nossas paixões negativas (o mal do qual devemos nos libertar).
Findo o esclarecimento sobre as ciências de interpretação da criatura humana e de suas terapias Divaldo dá inicio ao entendimento de que devemos centrar nossas energias na transformação do Egoísmo em Altruísmo mediante o contínuo trabalho e esforço para nos libertarmos da escravização do EGO (aquilo que aparentamos) e dos seus malefícios desenvolvendo a primazia do SELF (Ser profundo).
Para tanto, Divaldo referiu-se à obra “O Cavaleiro Preso na Armadura” (editora Record) do escritor e roteirista americano Robert Fischer, citando a dificuldade vivida pelo cavaleiro da fábula que busca livrar-se da armadura (EGO) em que vive preso.
O Espiritismo nos dá o caminho: “O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas”.( O Livro dos Espíritos, Editora FEB, questão 917)
Para que essa conquista seja permanente a transformação deve ser de dentro para fora. Mas como operacionalizar a reforma íntima preconizada por Jesus e enfatizada pela Doutrina Espírita?
Divaldo dá o roteiro buscando uma vez mais o repositório da Doutrina Espírita o Livro dos Espíritos onde Kardec indaga aos Espíritos Superiores na questão 919: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?
A resposta sucinta dos Tarefeiros do Cristo não deixa margem alguma a dúvidas:
“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
Esse é a nossa prioridade: A viagem Interior que nos auxiliará no reconhecimento das múltiplas imperfeições que aguardam serem, ainda, identificadas para depois, então, serem transformadas em virtudes como também daquelas outras que apesar de já reconhecidas aguardam nossa decisão firme para sublimá-las.
Deixar o Ego e ser o Self, como fez Francisco de Assis que diante da multidão que lotava a Catedral de Assis ouviu as acusações do pai e diante de todos desnudou-se das finas roupas que trajava e foi buscar no monturo de lixo um casaco ali atirado e vestiu-o, cingindo na cintura uma corda à guisa de cinto. Mostrava por esse gesto a luta que ele travava com o Ego.
Fazia-o não para afrontar o pai, mas por ser essa a forma de simbolizar a separação do Ego. Desnudou-se pelo anseio da liberdade encontrar a Verdade.
“Todo mundo pensa em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo”, afirmou Leon Tolstói (1828-1910). Quem desejar, portanto mudar o mundo mude-se em primeiro lugar. Não é o mundo que se muda. Somos nós que mudamos o mundo, mudando-nos.
Francisco de Assis não recomendou a ninguém a necessidade de vestir-se de tal ou qual forma. Ele impôs a si mesmo.
O Caminho da Verdade na busca do autoconhecimento é muito difícil pelo fato de nós nos ignorarmos.
A eliminação da ignorância de nós mesmos passa pela aquisição do conhecimento e citando o sociólogo, médico psiquiatra e psicólogo o professor Emilio Mira y Lopez (1896-1964) que, do ponto de vista psicológico o ser humano é constituído de cinco (5) elementos:
1. Personalidade (A máscara que afivelamos à face)
2. Conhecimento (São as aquisições intelectivas e formada pelas lições de aprendizagem)
3. Identificação (São as sintonias daquilo com o que nos afinizamos)
4. Consciência (Que atuando com o Conhecimento formam a base do discernimento. A consciência possui níveis diferenciados como será abordado a seguir)
5. Individualidade (O elemento que o egoísmo procura defender a todo custo)
Divaldo aborda a seguir os níveis de consciência que vamos galgando nas sucessões das vivências e ilustrou cada um desses níveis permitindo a todos identificar aquele em que estagiamos, permitindo-nos, assim, estabelecer um programa pessoal de aperfeiçoamento.:
1. Consciência de sono SEM sonhos
2. Consciência de sono COM sonhos
3. Consciência de sono ACORDADO (identificação)
4. Consciência de Si mesmo.
5. Consciência Cósmica. (Já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em
mim. Gálatas 2:20)
Para finalizar, Divaldo nos convida a não desistirmos da busca do autoconhecimento, não se deixando arrastar pelas Ilusões, optando pelo enfrentamento da Realidade. Encorajando-nos a perseverar nessa busca Divaldo cita vários exemplos de constância de propósito como o descobridor da lâmpada elétrica Thomas Alva Edson que mesmo após mais de 700 experiências infrutíferas não desistiu, permanecendo no laboratório até obter êxito.
Amor ou sofrimento
Só amamos os outros quando nos amarmos... E o amor solucionará todos os problemas, por mais intrincados se apresentem.
Amar, como amou Francisco de Assis que experimentou doenças que lhe despedaçavam o corpo frágil e afligiam a alma veneranda: malária em surtos contínuos com febre e dores estomacais, com o baço e o fígado comprometidos não conseguira desanimá-lo
Ao lado dessas aflições lentamente desabrochou as primeiras rosas arroxeadas da hanseníase.
Diante das dores quase insuportáveis da conjuntivite tracomatosa aceitou submeter-se ao tratamento especial contra o tracoma nas mãos do médico que aqueceu dois ferros até os tornar brasas vivas e o cegou. Francisco não reclamou, exclamando, confiante: Oh! Irmão fogo!... Sê bondoso comigo nesta hora...
Como se não bastasse, posteriormente, a fim de estancar a purulência dos ouvidos, novamente experimentou barras de ferro em brasa que os penetraram, sem que exteriorizasse um gemido único.
Francisco renasceu para sofrer – sem dever – e nos ensinar – a nós que temos dívidas – a arte sublime de dedicação a Jesus.
Toda uma epopeia de sacrifícios e abnegação ficaria inscrita nas páginas da História demonstrando quanto se pode fazer e viver sob a inspiração do amor de totalidade.
Texto: Djair de Souza Ribeiro
Fotos: Sandra Patrocínio
(Texto em português recebido em email de Jorge Moehlecke)
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