Sequer a chuva foi capaz de espantar as pessoas de diversos credos que vieram em busca de celebrar a paz no quarto movimento da cidade de São Paulo, ocorrido em 10 de novembro de 2018, no auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer. Idealizado pelo médium e orador espírita Divaldo Franco e organizado pela Associação de Desenvolvimento Espiritual Reencontro, o evento teve a participação das apresentações musicais de Anastasha Meckenna, Virginia Rosa e banda Soul da Paz.
Jacqueline Dalabona, mestre de cerimônia, e Odilon Wagner agradeceram a presença de todos e anunciaram os agraciados com o Troféu Você e a Paz. Na categoria “Instituições que realizam”, foram homenageados os Institutos Olga Kos e Credipaz, além da rede de loja de chocolates Cacaushow. Já na categoria “Personalidade física que se doa”, foram lembrados o humorista Carlos Alberto da Nóbrega e o escritor Maurício de Sousa.
Cônego Joé Bizon, representante do catolicismo, propôs, em sua fala, a construção de uma cultura de paz. Convidou a todos a se reconciliarem e perdoarem, evitando a intolerância e promovendo o tratamento fraterno dentre seres humanos. Para ele, sem paz não haverá justiça, pois segundo o profeta Isaías, a paz é o fruto desta. Ao encerrar seu pronunciamento, menciona o pensamento do papa Francisco sobre as diferenças religiosas, que não devem ser fontes de divisão, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da tolerância e da sábia construção de uma nação. As religiões podem auxiliar a extirpar as causas dos conflitos, construindo pontes de diálogos e sendo uma voz proféticas às pessoas que sofrem.
Paula Cristina Corcelli Jorri (representante da umbanda), aconselhou aos ouvintes a serem portas de paz, permitindo que esse sentimento permeie as palavras, gestos e obras. Alerta para o fato de que não basta apenas vestir branco para simbolizar a paz, mas que é necessário internalizar o branco, vestindo-se de dignidade, ética e responsabilidade.
O rabino Nathan Ruben Silberstein (judaísmo) menciona que Deus é a fonte da paz e que Esse consegue realmente unir as pessoas em favor de sentimentos nobres. Para seu companheiro de religião, o rabino Michel Schlesinger, a paz é uma conquista que se atinge à medida que em que se está de bem consigo mesmo. Os dois respeitáveis senhores finalizaram suas falas desejando que todos consigam atingir a paz.
Divaldo Franco iniciou sua mensagem, referindo-se a uma história ocorrida durante a primeira Guerra Mundial, no período de 1915 a 1917, em que turcos e armênio se combatiam. Os soldados da Turquia, ao invadirem uma das casas armênias, assassinaram os pais da família, deixando duas jovens órfãs. A mais jovem foi estuprada até a morte e a demais, foi transformada em escrava sexual do comandante da tropa.
Terminada a guerra, e tendo conseguido se evadir, ela tornou-se enfermeira na Turquia, indo trabalhar em um hospital. Nesta ocasião, um homem agonizante necessitava de cuidados especiais, porém ninguém queria cuidar dele, que estava coberto de úlceras putrefatas: somente aquela enfermeira armênia dedicada aceitou cercar-lhe de atenção. Quando convalescido, o doente agradeceu-a, e ela contou-lhe quem era. Disse também que porque se tornara cristã, não poderia prejudicar ninguém, nem mesmo seu algoz do passado, que tanto a fizera sofrer, atendendo assim o ensinamento de Jesus, o de amar os inimigos. Divaldo leva o público à reflexão mais íntima, perguntando-lhe se, assim como ela, seria capaz de perdoar. Porque somente o perdão traz a paz.
Em setembro de 1939, a educadora italiana Maria Montessori, ao ser convidada a proferir uma palestra sobre a paz, a homens de Estado, inicia seu discurso ponderando que a criatura humana não é educada para a paz, sendo somente formada para a prepotência, para o triunfo enganoso, a mentira, a quimera, a ilusão e afirma que a salvação da humanidade virá através da Educação. Isso condiz com a questão 685 do Livro dos Espíritos que menciona ser a educação moral a única forma de combater o materialismo e a crueldade. Divaldo pondera que Allan Kardec também foi educador e discípulo de Pestallozi (pai da educação chamada Escola Nova), além de Jesus Cristo, mestre por excelência. A paz é mais do que um estado de aparente modorra, ela pode ser de natureza agitada e encontrar-se numa pessoa ágil, ligeira, mas com a consciência de paz.
O medo é a ausência da paz, pois perdeu-se a confiança no próximo. Ao invés de amar, está-se preocupado em armar. Diante disso, Divaldo propõe desarmar para amar mais os semelhantes, como está intrínseco na não-violência proposta por Gandhi. A paz do Cristo é universal e apolítica, por isso Franco propõe que se siga os exemplos de Francisco Candido Xavier, Madre Tereza de Calcutá e o papa Francisco, descobrindo os invisíveis e auxiliando-os, como fizeram os heróis, hoje célebres, e os anônimos amantes da verdade. Ao finalizar a sua fala, retoma a pergunta primeira: “você perdoaria?”. O ódio é a brasa que, ao jogar-se no criminoso, queima também as mãos do atirador.
De Lucca, representante do espiritismo, traz em sua mensagem o pensamento de que a promoção da paz não é passividade, mas, sim, evitar com que se seja o contribuinte para a violência, buscando o sagrado habitado em cada ser humano. Rememorou um caso de Chico Xavier, quando este teve seu cão envenenado por uma vizinha, magoando-o. Emmanuel, nesta ocasião, solicitou a ele que procurasse saber o que a vizinha estaria precisando e lhe desse de presente, livrando-se assim de quaisquer ressentimentos e pagando o mal com o bem, perdoando verdadeiramente.
O evento encerrou-se em clima de harmonia e união, com a música emblemática do movimento (A paz, composta por Nando Cordel) e entoada por todos que se encontravam no local, provando que é possível a união de diversos credos em favor de um bem maior.
Texto: Carlyne Paiva
Fotos: Edgard Patrocínio
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