Encontro Fraterno com Divaldo Franco 2017
Praia do Forte, Bahia, 28 de outubro (Manhã)
O dia de sábado amanheceu esplendoroso, leve brisa, a manhã umedecia a natureza através de tênue chuvisqueiro. Poderíamos, em um esforço contemplativo, inferir que as bênçãos divinas alcançavam os homens na Terra, sofridos, machucados em suas intimidades uns, outros, aprisionados em si mesmos, liberando seus dragões internos, intentam contra seus legítimos irmãos. Não há como deixar de perceber o divino em nós, como não nos é lícito imaginar que o sol somente brilha em nosso favor.
Neste ambiente de salutar convívio e paz, o Encontro Fraterno com Divaldo Franco, em sua vigésima edição, teve continuidade. Para o deleite e harmonia dos presentes, Vanda Otero, cantora lírica, apresentou inolvidáveis páginas musicais através de sua voz poderosa, quão melodiosa.
Divaldo Franco, prosseguindo como o seu ministério de facilitar a trajetória dos que o escutam, discorreu sobre A jornada heroica do Cristo. A Segunda Guerra Mundial havia se instalado na face do Planeta com a invasão da Polônia, imortalizada pelas páginas de Frederic Chopin. No norte desse país vivia uma Rabino Judeu, consagrado à Deus e saudoso de sua Israel, residindo nas proximidades de uma propriedade de uma família alemã.
Ao deslocar-se para o seu templo religioso o Rabino Samuel passava em frente àquela propriedade onde trabalhava o jovem filho da família alemã ali instalada, cultivando a terra. O Rabino sempre lhe dirigia um cumprimento em alemão: — Guten Morgen, Her Müller (– Bom Dia, Sr. Müller). Arrogante, o jovem não se dignava responder. O jovem o detestava, afinal era um Rabino Judeu. Passaram-se os anos. A noite dos cristais já havia acontecido. Era sábado, dia consagrado ao culto religioso judeu, O Rabino Samuel novamente passa e cumprimenta, como de hábito, o jovem trabalhador alemão.
Os dias que se sucederam foram trágicos. Em 1945, quando a Alemanha estava exausta, o Rabino Samuel foi aprisionado, colocado em trem de carga animal e transportado para um campo de concentração. O Rabino amava os alemães. Os aliados prepararam, no mês de maio uma estratégia simulando um grande ataque à Alemanha, despistando e mascarando a real intenção e localização do aparato bélico libertador que estava em curso. O verdadeiro ataque se daria por mar, na Normandia. A resistência alemã era muito forte. Os aliados venceram com grandes sacrifícios em vidas e em material.
A partir de agosto de 1945 teve início os julgamentos dos vencidos, acusados de genocídio. Um desses tribunais estava sediado em Frankfurt. Estando Divaldo Franco nessa importante cidade alemã, em 2014, e proferindo uma conferência sobre a Esperança, ele viu psiquicamente, naquele ambiente, o desenrolar de julgamento. O magistrado solicitava que um Rabino se aproximasse, como testemunha. No banco dos réus estava um jovem com cerca de 30 anos de idade, fardado. O promotor o acusava. O réu não deixava transparecer qualquer emoção, mantinha-se implacável.
A testemunha, o Rabino Samuel foi inquirido pelo promotor, indagando se não era aquele réu que fazia a seleção entre os que deveriam morrer e os que seriam encaminhados ao trabalho forçado. O Rabino Samuel, de imediato, reconheceu o seu vizinho polonês, Her Müller. A testemunha afirmou, então, que não era aquele soldado que fazia a seleção, mas o sistema, o partido, que ele representava. Não, não era ele que selecionava, categórico afirmou. Mas contra ele há acusações consistentes, redarguiu o promotor severo.
Ele era bom, ele foi treinado para matar. Ele somente apontava para a direita ou para a esquerda, selecionando somente os homens fortes e saudáveis para o trabalho, os demais seguiam para o extermínio. Ao aproximar-me, na fila de seleção, cumprimentei-o, como de hábito, ele me reconheceu, éramos vizinhos, Her Müller, um homem bom, impassível, me sinalizou seguir para o lado dos que sobreviveriam, trabalhando. Agradeci-o: — Vielen Danke, Her Müller.
O promotor dispensou a testemunha, que ao passar em frente ao réu, este o agradeceu, vertendo duas lágrimas. O réu foi condenado à forca, executado em seguida. O Rabino Samuel, embora judeu amava o Mestre Galileu, verdadeiro profeta na terra hebraica. Nascia e agigantava-se um herói, o Rabino Samuel, ao amar o próximo, independente de suas condições ou atitudes.
Assim Divaldo foi se aprofundando na história da humanidade, apresentando outros heróis que souberam dominar seus dragões íntimos, lançando luzes nas sombras interiores, plenificando-se de bênçãos, harmonia e felicidade, pois que aquele que já está liberto. O homem, não admitindo a sua origem divina, seres criados pelo incriado, tentaram apequena-Lo, na vã esperança de se fazerem maiores e mais importantes. Todo aquele que se torna servidor, se faz maior ante o olhar divino. Assim nascem os heróis, que saindo-se de si, servem, amam, perdoam, promovendo o bem-estar do próximo através da dádiva da autodoação.
O Ego trabalha para ter, o Self para ser. Para descobrir o Deus interno é necessário realizar a viagem para dentro de si, lançando luzes sobre as sombras, identificando os dragões íntimos, conquistando-os. O homem deve construir em si o heroísmo crístico, isto é, aquele que cumpre a Lei Divina, amando sem ser amado.
Nas artes, nas ciências e através de notáveis Deus se manifesta possibilitando um crescimento harmonioso para seus filhos. Joana de Cusa, Francisco de Assis e outros, demonstraram o poder libertador do amor, doando-se por inteiro ao amado.
Recheando com outros inigualáveis exemplos de heroísmo, Divaldo Franco, conduziu o público para momentos de descontração, onde o riso, fonte terapêutica, produzindo equilíbrio saudável, libertando o ser de seus dragões, plenificando-se de energias salutares.
Perpassando a história romana, antes e depois de Jesus, Divaldo apresentou diversos casos onde o heroísmo íntimo facilitou a ação benfazeja de Jesus e dos cristãos, que necessitam ainda tornarem-se crísticos. O Espiritismo elegeu a moral do amor, a busca do estoicismo, do heroísmo que levará o homem para a vitória sobre as próprias paixões, conduzindo-o para a plenitude.
Texto: Paulo Salerno
Fotos: Jorge Moehlecke
(Recebido em email de Jorge Moehlecke)
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